segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Aconteceu a caminho de casa...

Fim de tarde. Mais um dia de trabalho concluído. Uma mancha cinzenta montava-se no céu: analogia mais que perfeita com o meu estado de alma.
O frio cortava. Caminhei para casa, com semblante cansado mas, inesperadamente, pensativa.
Senti uma sensação de inquietação. Estranhei. Mas continuei.
Subitamente, o meu ouvido captou uma melodia que me fez estancar, tal era a familiaridade. Emanava de umas colunas de uma loja do centro. Há anos que não a ouvia. Regredi uma década: tempos doces de partilha e de inocência. Época de sonhos, de planos, de aventura – viagens, experiências, conquistas.
Sorri como há muito não sorria.
Segui caminho.
Atravessava a congestionada rua principal – composta por inúmeros vultos - quando embati, inevitavelmente, com outro espírito desatento como eu. Um segundo pareceu uma eternidade. Forte aroma brotou daquele contacto repentino. Fresco e revitalizante.
Perfume marcante de uma personalidade: o teu perfume. Estanquei por uns minutos e toda uma nostalgia a dois cresceu em mim. E voltei a sorrir.
Um súbito desejo de gula surgiu e ganhou vida própria. Uma Bola de Berlim. Parei na pastelaria mais próxima e pedi.
No momento em que tirava a nota para pagar, percebi que tinha pedido aquela guloseima. Aquela que partilhávamos juntos nos nossos passeios dominicais de final de tarde, pela qual éramos capazes de sair de casa em dias de chuva e que saboreávamos como um troféu, um deleite.
Estava tudo muito estranho. Parecia que a caminho de casa, o universo me queria lembrar de ti, de mim, de nós.
Não creio em fontes cósmicas, mas (se existem) apontavam para ti.
O meu racionalismo foi mais forte e segui (tolice).
No cruzar de ruas, já quase em casa, um grande mural publicitário possuiu-me. Tinha o teu nome escrito - roubado pelo actor da moda - destacado pela cor, pelas luzes fortes, pelo tamanho. Senti que me gritava: vai para casa!
Aí acreditei. Algo me levava para ti.
Corri escadas acima com todas as minhas forças. Queria abraçar-te. Queria dizer-te que nada justifica a nossa distância. Queria mostrar-te como o universo me mostrou que os momentos bons ultrapassam os maus! Queria viver de novo!
Entrei e não estava ninguém. O silêncio foi interrompido pelo telefone que tocava, incessantemente.
Uma voz do outro lado sussurrou-me a notícia. Um choque frontal tinha-me impedido para sempre de te dizer o quanto te queria.
Nesse dia, nessa hora, nesse momento, morri contigo.

Sem comentários: